quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Da-lhe Garoto – Quebra tudo!

Renato Santoro
Pólo de Osasco

Não há dúvidas que a música instrumental brasileira está entre as mais sofisticadas dentro do estilo no cenário internacional. Sendo o jazz atual um leque de muitos e diferentes sub-estilos que trafegam entre o jazz tradicional, smooth-jazz, jazz-rock, fusion, jazz europeu e muitas outras vertentes, temos um destaque para a produção artística brasileira.

Já é tradição desde a primeira viagem de Carmem Miranda aos EUA, o destaque foi do multi-instrumentista das cordas, Aníbal Augusto Sardinha o Garoto, que foi convidado juntamente com o Bando da Lua para acompanhar a pequena notável.

Garoto chamou a atenção de grandes maestros americanos, pela sua eximia habilidade ao violão tenor. Íam ao espetáculo de Carmem para ver o músico brasileiro e seu instrumento peculiar. Era comum ver na platéia Duke Elington e Art Tatum.

Apesar de vários convites Garoto nunca mais voltou aos EUA, faleceu precocemente em 1955, aos 39 anos, deixando além de enúmeras composições um legato para o violão brasileiro, para música instrumental e de concerto.

O paralelo de músico acompanhante e instrumentista é uma constante destes profissionais, que produzem um trabalho artístico e composicional. Temos a história de Hermeto Pascoal que viveu o começo de sua carreira em São Paulo tocando em boates e impulsionou-a junto ao Quarteto Novo, (Heraldo do Monte, Teo de Barros e Airton Moreira), internacionalmente. Todos deste grupo têm uma carreira internacional como músicos do chamado Jazz Brasileiro.

Heraldo do Monte, Olmir Stocker e Helio Delmiro são três pilares da guitarra brasileira, (instrumento típico do jazz americano), foram eles que na década de 70 acompanhando muitos artistas firmaram seus estilos e projetaram suas carreiras como compositores e instrumentistas.
Outro muito esquecido, porém, não menos importante, é o também guitarrista, violonista e multi-instrumentistas das cordas Zé Meneses, hoje com 86 anos em plena atividade.

Meneses foi parceiro de Garoto na Rádio Nacional, e o substituiu quando este faleceu. Substituiu-o não só na rádio, mas como parceiro do grande maestro Radamés Gnatalli.

Radamés, que transitou tranqüilamente entre a música popular e a de concerto, escreveu para violão como ninguém, (deve ter sido o compositor brasileiro que mais escreveu para este instrumento), teve nos anos 70 seu sexteto, (baixo, guitarra, bateria, pianos, acordeon) onde muitos arranjos inusitados para grandes clássicos da música brasileira foram criados, além é claro de suas composições.

Nos anos 80 tivemos um “boom” dentro da produção cultural “independente” e principalmente dentro da música instrumental. Em São Paulo selos como o “Lira Paulistana” e “Som da Gente” lançaram grupos geniais e reforçaram outros que já atravessavam o tempo. Surgiram então: Grupo Pau Brasil, Grupo D´Alma, Alemão e Grupo, Marco Pereira, Heraldo do Monte, Hermeto Pascoal, Paulo Belinatti, Grupo Medusa, Ulisses Rocha e muitos outros.

A produção independente da música instrumental dos anos 80 firmou muitos artistas internacionalmente. Paulo Belinatti, que já havia gravado em 1984 o LP “Garoto” com parte das composições para violão solo deste compositor, grava pelo selo americano GSP, (San Francisco), seu primeiro CD: The Guitar Works of Garoto, toda a obra para esse instrumento, além de transcrever e publicar as partituras exatamente como o próprio compositor tocava.

Essa obra vinda ao público, não só é um resgate histórico da figura deste grande músico brasileiro como uma referência para futuros músicos. Um trabalho minucioso de transcrição que levou muitos anos de pesquisa.

Os anos 90 chegam com grandes novidades artísticas, mudanças políticas, abertura econômica e novas mídias. Começa no Brasil o lançamento dos primeiros CDs. A produção independente do selo Som da Gente acaba em 1992 e junto com ele um acervo de 51 discos de diferentes artistas. Alguns destes trabalhos foram re-lançados em CD, mas infelizmente a grande maioria não.

Grandes talentos continuam a surgir na inventiva música instrumental brasileira. Assim como no final dos anos 70 e começo dos 80 onde surgiram grandes instrumentistas como Rafael Rabelo e um grande movimento chorístico, o começo do novo milênio é marcado por um grande interesse de jovens pela linguagem do choro.

Seja no meio universitário, em centros urbanos como Brasília e sua Escola de Choro, bem como no Rio e São Paulo o choro se torna uma verdadeira epidemia.

Porém nem tudo é choro na música instrumental brasileira, grupos que valorizam a versão camerística do jazz, apresentandam novas composições e arranjos originais. Artistas como Chico Saraiva e grupo Água, e o Duo Quase Acústico mostram em seus primeiros trabalhos uma linguagem brasileira com improvisação livre e arranjos elaborados, onde os integrantes dialogam como no jazz sem perder o foco da música brasileira.

Novos instrumentistas virtuoses continuam surgindo dia após dia. Inventivos e habilidosos só mantém a tradição da ótima qualidade da música instrumental brasileira e reverencia a memória, de gênios como Pixinguinha, Garoto e Radamés.

Referencias bibliográficas e sites:

Antonio, Irati e Pereira, Regina - Garoto - Sinal dos Tempos
Site: www.radamesgnatalli.com.br

Um comentário:

Tutor virtual e/ou Aluno disse...

Parabéns Renato,
pelo grande conhecimento musical e pelo grande amor à música e aos músicos brasileiros.

Helena Peters Rodrigues