terça-feira, 12 de maio de 2009

A MPB e a nossa história

Antonio Eduardo Lourenço
Pólo de Jales

A MPB e a nossa história

MPB, Música Popular Brasileira. Refletir sobre ela é um exercício de grandes questionamentos. Por exemplo: O que é e como se define MPB? Existem músicas feitas no Brasil por brasileiros que não podem ser consideradas MPB? Com tantas influências que nossa música sofreu de outras culturas, seria possível realmente classificar a verdadeira MPB? Poderíamos aqui levantar muitas outras questões, mas se essas já forem respondidas creio que teremos um bom parâmetro para as desejadas conclusões.

Mais radicalmente, poderíamos dizer que a verdadeira MPB é a produzida pelos índios, mas se pensarmos que somos fruto de grandes miscigenações, inclusive com os índios originais da terra, e levarmos em consideração que a identidade de um povo se constrói dia-a-dia em um processo ininterrupto, passaremos a acreditar que a MPB ainda está em construção também. Por outro lado, será que não estaríamos chamando “música do Brasil” (Baião, Bossa Nova, o Chorinho, o Frevo , o Samba, o Samba-rock, o Forró e etc.) de MPB?

Pois bem, segundo historiadores, a MPB surgiu exatamente em um momento de declínio da Bossa Nova. Uma canção que marca o fim da Bossa Nova e o início daquilo que se passaria a chamar de MPB é Arrastão, de Vinícius de Moraes (um dos percursores da Bossa) e Edu Lobo (músico novato que fazia parte de uma onda de renovação do movimento, marcada notadamente por um nacionalismo e uma reaproximação com o samba tradicional, como de Cartola). A partir dali, difundiriam-se artistas novatos, filhos da Bossa Nova, como Geraldo Vandré, Taiguara, Edu Lobo e Chico Buarque de Hollanda, que apareciam com freqüência em festivais de música popular. Bem-sucedidos como artistas, eles tinham pouco ou quase nada de bossa nova.Vencedoras do II Festival de Música Popular Brasileira, (São Paulo em 1966), Disparada, de Geraldo, e A Banda, de Chico, podem ser consideradas marcos desta ruptura e mutação da Bossa para MPB. Era o início do que se rotularia como MPB, um gênero difuso que abarcaria diversas tendências da música brasileira durante as décadas seguintes. A MPB começou com um perfil marcadamente nacionalista, mas foi mudando e incorporando elementos de procedências várias, até pela pouca resistência, por parte dos músicos, em misturar gêneros musicais. Esta diversidade é até saudada e uma das marcas deste gênero musical. Pela própria hibridez é difícil defini-la.

Por meio dos grandes festivais a MPB conquistou as camadas mais humildes da população, e como essa camada é apaixonada, as letras passaram a falar direto ao coração e aos anceios de um povo hora sofrido, hora esperançoso e hora enamorado. Quantas serenatas debaixo das janelas das pretenças namoras tiveram na MPB sua voz principal (e como isso dava certo), quantos finais de festas (depois de muito Rock-Pop-Balanço) foi coroado por violões e vozes entoando o melhor da MPB, não que sejamos saudosistas, mas até hoje ela ainda faz a diferença entre as “coisas” que ouvimos por ai.

Por falar em ouvir, certa vez, em uma entrevista um crítico e estudioso de música (que no momento não recordo o nome) disse que não existe Rock brasileiro, que o Rock é só o produzido nos EUA, e o que se produz no Brasil é apenas um estilo de MPB e não Rock. Já quem o produz não o considera MPB. Queria ver ele dizer isso pra Rita Lee e pro Raul Seixas. Pois bem, se o que chamamos de “Rock nacional” não passa de MPB poderíamos dizer que tudo que é musicalmente produzido no Brasil é MPB.

Classificar certas “coisas” como MPB (por mais hibrida que ela seja), não é atividade das mais agradáveis. O sertanejo moderno de São Paulo e Goiás, por exemplo, que iniciou sua caminhada com o nome de Country Music e só depois se adequou comercialmente ao nome de “sertanejo romântico”, eles se autodenominaram como “não MPB” e assim como este estilo o “Funk” carioca e outros mais que vão surgindo como frutos da “criatividade” do povo brasileiro estão se incorporando ao nosso viver musical sem serem, por mais populares que sejam, considerados Música Popular Brasileira.

A cidade de Ilha Solteira localizada aqui na região noroeste paulista vem insistindo no seu ideal de manter a MPB viva, para isso já realizou 34 desses festivais ano a ano sem parar. Um bom exemplo a ser seguido é o da Universidade de Passo Fundo – MG que é uma instituição comunitária e filantrópica que, desde o início da sua história mostra-se consciente da responsabilidade das universidades como agentes difusores de cultura, a Universidade de Passo Fundo realiza o Festival MPB-UPF possibilitando que artistas apresentem seus trabalhos, valorizando a cultura brasileira.

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