segunda-feira, 20 de abril de 2009

O choro

José Luciano Lambert
Pólo de São Carlos


Rio de Janeiro, segunda metade do século XIX, por volta de 1870: o aparecimento do choro, ainda não como gênero musical, mas como forma de tocar, tem sua origem no estilo de interpretação que os músicos populares cariocas imprimiam à execução das polcas, que desde 1844 figuravam como o tipo de música mais apaixonante introduzido no Brasil, entre outras danças européias, como a Scottish, a Mazurca e a Habanera. É a partir dessas danças que se estruturará pouco a pouco o estilo “choro”, com a separação cada vez maior da música erudita da música popular, numa evolução que levaria ao aparecimento, no início do século XX, do ritmo e do gênero mais característico do Brasil, o samba. O choro é considerado a primeira música popular urbana típica do Brasil, de difícil execução, exigindo uma técnica mais apurada por parte dos instrumentistas.

Antes de examinar as características do choro, é importante ver o significado exato da palavra que dá nome a esse gênero musical. Várias interpretações foram dadas pelos musicólogos que se dedicaram ao seu estudo. Batista Siqueira diz tratar-se de uma colisão cultural da palavra “choro” (do verbo chorar) com a corruptela da grafia de “chorus”, enquanto designação de conjunto instrumental. Mozart Araújo, baseado em depoimentos autorizados, explica o nome pelo caráter dolente e choroso das músicas tocadas por estes conjuntos. Renato de Almeida, em seu livro “O negro brasileiro”, liga-o às danças cantadas que os negros chamavam “xôlo”, que, por confusão com a parônima portuguesa, passou a “xôro”, e foi grafada com “ch”(choro).

O choro nasce como gênero principalmente através das obras de Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth. Embora trilhando caminhos distintos, esses dois compositores fundaram o que hoje chamamos “música brasileira”. Temos também vários outros nomes de grande importância para o choro, tais como Pixinguinha, o “Bach do choro”, Antonio Callado, Patápio Silva e muitos outros que até hoje mantêm vivo esse gênero musical tão genuinamente brasileiro. Atualmente encontramos compositores, intérpretes e grupos trazendo a linguagem do choro para os dias de hoje, mostrando que esse gênero musical tem força e identidade próprias que não são corrompidas pelo tempo. Muito pelo contrário, o choro, a exemplo do jazz, é um gênero musical que se transforma constantemente, refletindo o momento presente, influenciando músicos e músicas.

O choro é a forma de música brasileira mais próxima dos clássicos europeus e, ao mesmo tempo, mais essencialmente brasileira. De todas as músicas que são produzidas no Brasil, o choro é a que mais fala da harmonia clássica, que foi sendo modificada pelos chorões até ganhar uma personalidade própria, até conquistar sua identidade. É mais ou menos como aconteceu com o jazz: os jazzistas deram uma americanizada nas harmonias clássicas européias e chegaram àquela que é a melhor música americana. Com suas ricas melodias e seu caráter improvisatório, o choro pode ser considerado o jazz brasileiro.

Após seus quase 140 anos de existência, o choro se apresenta sob múltiplas formas, permeando e enriquecendo a nossa música com uma brasilidade que encanta todo o mundo.

Referências:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Choro%20-%20acessado%20em%2015/04/2009
MARIZ, Vasco – A canção brasileira (Erudita, Folclórica e Popular) – Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira/ MEC – 1977
TINHORÃO, J.R. – Pequena História da Música Popular – Petrópolis, Vozes - 1978

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