segunda-feira, 13 de abril de 2009

A porrrrta aberta da música caipira

Eneida Alves Regado
Pólo: Itapetinga
A música caipira no Brasil é tão antiga quanto o próprio caipira. Simples e sem pressa como cigarro de palha, alcança ainda hoje um público enorme, seja jovem, velho, urbano, rural, homem ou mulher. Nascida de parto natural no nosso interiorzão, bastando uma viola e o tocador, hoje se vê invadida por inúmeros “estilos”, que pretendem beber deste nicho comercial de forma bastante popular. Como é o caso de algumas duplas.

Este caipira cantador vem lá da origem do Brasil, uma mistura de índios, jesuítas e portugueses. Com eles misturaram-se também as danças e entoadas ritmadas, os hinos religiosos, as modinhas portuguesas, dando luz à música caipira. A viola, esculpida do tronco, foi sacramentada como instrumento base para este gênero musical.

Dentre suas origens, também considerado música caipira, o cururu nasceu dos cantos religiosos e ainda resiste no interior de Piracicaba, Sorocaba e Tietê. Mario de Andrade, nas suas andanças de pesquisa pelo interior, constatou o cururu em forma de desafio , sempre iniciada com saudação a um santo.

O catira ou cateretê surgiu de uma dança indígena, o cateretê. Vistos ainda em São Paulo e Minas Gerais, começam com uma moda de viola e são acompanhados de batidas de pés e solos. Bonito de se ver, nas festas de Folias de Reis e as de São Gonçalo, coloridos e alegres, estão na alma do povo interiorano e contagiam a “gente que vem da cidade grande”.

Mas é na moda de viola que a gente pára e não quer sair mais. Com suas possibilidades de solos de viola, longos versos, letras que contam histórias cheias e tristezas e alegrias, resgate da história do próprio povo que vive ali, paralisam quem passa e fica ali até o fim, sem arredar pé, para saber e ouvir o desenrolar daquele causo.

Por volta dos anos 50, com a vinda de muitos nordestinos para a construção da emergente São Paulo e outras capitais, a música caipira ganhou as rádios e se popularizou, ficando conhecida neste meio como música sertaneja. Misturou-se com outros gêneros, como MPB, rock e influências de country music.

Os anos 50 foi a década das duplas, vindas do interior; nos anos 60 o surgimento do excelentíssimo Renato Teixeira, vindo da Jovem Guarda, resgatando e trazendo uma enorme divulgação deste estilo, com muito estilo; nos anos 80 veio a dupla Pena Branca e Xavantinho que adaptaram músicas da MPB para a música sertaneja, também com grande repercussão e merecido sucesso.

Hoje há duas vertentes mais claras da música caipira (ou sertaneja, como tornou-se conhecida na década de 50 pelas rádios): as duplas com influência do country music, mais populares e com grande romantismo, letras populistas e repetitivas e grande repercussão no público jovem; e aqueles resgatadores da música caipira de raiz, como o Almir Sater e Renato Teixeira, que canta: “Que me imporrrta, que me imporrrrta, o seu preconceito? Que me imporrrrta?”, ensinando o “sotaque” caipira para quem não conhece.

E vale a pena conhecer! Esta música caipira de raiz, com origem na nossa história, vale a pena ser ouvida, tocada, dançada e sentida com a alma. Sentar na soleira, cumprimentar a vizinha, comer bolo de mandioca, e deixar a pooorta aberta, porque todos nós somos um pouco caipiras, ora.

Um comentário:

Maria Angélica disse...

Olá, Eneida!
Que gostoso de ler este seu texto!
Ele incorpora tanto a interação que a música caipira promove, que dá até pra sentir o cheirinho do café passando pelo coador de flanela; o cheirinho do bolo no forno e, como não poderia deixar de ser,uma viola ao fundo!

Parabéns!