sábado, 11 de abril de 2009

Samba: Uma viagem cultural pelo mundo

Autor: Thiago Carbonari
Pólo: São Carlos

O Brasil é um dos países mais exóticos e interessantes no que concerne à produção cultural, pois deriva de uma forte miscigenação de culturas fazendo com que as produções musicais regionais sofram várias influências por conta disso. Mas ainda assim o gênero musical que leva a marca estampada do Brasil é o samba que, assim como o brasileiro, é rico em mistura de raízes.

Pesquisadores apontam que o samba moderno é a síntese do lundu, do maxixe e da modinha. O lundu é essencialmente africano, o maxixe é uma mistura da dança da polca européia com os ritmos caribenhos e afro-brasileiros e a modinha que é a manifestação mais brasileira e que foi difundida por Domingos Caldas Barbosa nos palácios das cidades portuguesas.

A denominação samba é, provavelmente, originária da palavra angolana semba, que significa umbigada, pelo modo como era dançada. Seu primeiro registro pode ser encontrado na revista “O Carapuceiro” em 1838. A palavra samba, por volta do século XIX, denominava qualquer música feita pelos escravos africanos do nordeste ao sudeste do Brasil. Mas, foi o samba carioca o que mais se destacou neste cenário, cuja maior influência veio dos ritmos baianos, provavelmente, pela transferência dos escravos da Bahia para o Rio por causa das plantações de café.

O Rio de Janeiro é o berço do samba moderno, e foi lá que foi gravado o primeiro samba, intitulado “Pelo Telefone”, cantado por Bahiano e Ernesto Nazaré, mas registrado polemicamente por Donga e Mauro Almeida, sendo anunciado pelo próprio Donga em 1917 no jornal do Brasil como sendo um “tango-samba”. Sabe-se que na época as composições eram feitas de forma coletiva e que esta música foi criada em uma roda de partido alto, da qual participavam Mauro Almeida e Sinhô, que se intitulou o rei do samba na época. Nesta fase também começaram a surgir inúmeras gravações de samba e esse estilo começou a se popularizar.

As rodas são formações marcantes no samba, assim como a coletividade e o espírito de cooperação. O termo escola de samba foi utilizado e adotado pelos grandes grupos de samba para impor mais respeito e ganhar mais credibilidade diante da sociedade. A primeira escola de samba como conhecemos hoje foi fundada no bairro Estácio de Sá no Rio de Janeiro, por Ismael Silva com o nome de Deixa Falar. Ela moldou o samba-enredo para a forma atual com instrumentos de percussão como surdo e cuíca. A Deixa Falar fez sua primeira aparição na Praça Onze como um bloco de corda e não deixou ninguém parado. Um ano depois surgiram mais cinco escolas, entre elas a Estação Primeira de Mangueira e a Vai Como Pode que atualmente é a Portela.

Fazer dançar e cantar junto não são as únicas qualidades do samba; ele também trabalha o aspecto social. O primeiro cronista do samba foi Noel Rosa, que até do corpo humano tirava samba, como a música Coração. Foram das “brigas” com Wilson Batista que saíram clássicos como Feitiço da Vila e Palpite Infeliz.

O tempo foi passando e o samba foi se elevando de divertimento popular ao estado de arte. Em 1958 foi lançado o disco Canção do Amor Demais, de Elizeth Cardoso, com a batida diferente de violão de João Gilberto na música Chega de Saudade de Tom Jobim e Vinicius de Morais. Essa interpretação foi um marco na história do novo samba intitulado de bossa nova.

A bossa nova, com uma forte influência do jazz e do impressionismo da música clássica, trouxe um ar mais intimista e refinado ao samba. O termo bossa deriva da gíria carioca da época que significava, segundo Sóstenes Pernambuco Pires Barros, “jeito”, “maneira”, “modo”. E bossa nova era uma oposição a tudo o que era considerado, pela nova geração de músicos, como sendo antigo e ultrapassado.

Em São Paulo víamos o aparecimento de outro mestre do samba, João Rubinato, o Adoniran Barbosa. Com uma grande voz e letras com histórias e linguagens tipicamente urbanas, de dar inveja a qualquer “malandro” da época, Adoniran vive até hoje em suas composições geniais.

Os anos 60 e 70 trouxeram uma revolução nas artes e também na música brasileira. Surgiram nomes como Cartola, Nelson do Cavaquinho, Zé Keti, Clara Nunes, Martinho da Vila e o mestre Bezerra da Silva. Também surgia o grande Hermeto Paschoal com a mistura dos sons da natureza com a música regional, o jazz com o samba. Enfim, a música que só poderia ser feita por um brasileiro. Foi também nesta época que o samba voltava às raízes dançantes com o samba-rock em discos como “Jorge Ben” de 1969 e “Força Bruta” de 1970, com o famoso Trio Mocotó acompanhando o cantor e guitarrista Jorge Ben. Esse estilo trouxe uma nova modernização ao samba, acrescentando a guitarra e o suingue do funk ao samba puro e aplicado, sem tirar a malandragem inerente ao estilo.

Nos anos 80, após um breve esquecimento do estilo, ele voltou às rádios na forma do pagode; com artistas como Zeca Pagodinho, Jorge Aragão e o grupo Fundo de Quintal. Atualmente o pagode é sinônimo de letras fúteis, harmonias fracas e ritmos “quadrados”, o que não acontecia com os artistas dessa época, mas como tudo que tem um período ascendente e cheio de idéias, também têm épocas de ostracismo e declínio.

O samba moderno é o casamento do samba com a nova batida das ruas, como pode ser visto nos discos novos de Marcelo D2, na mistura de samba com hip hop ou no caso da banda Los Hermanos que misturam elementos de bossa nova, ska e rock.

O samba é a alma e a vida da cultura musical brasileira, como dizem os versos da música Não Deixe o Samba Morrer de Edson e Aloísio, imortalizada na voz de Alcione: “Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar. O morro foi feito de samba. De Samba, prá gente sambar”.

Para Saber Mais
http://www.suapesquisa.com/samba/
http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT865240-1655-1,00.html
http://www.sambacarioca.com.br/historia-do-samba.html
http://www.collectors.com.br/CS06/cs06_05n.shtml
http://www.hermetopascoal.com.br/
http://www.almacarioca.com.br/mpb.htm
http://www.stellaaguiar.com.br/historiadoritmo/historiadosritmos.htm#sambarock
http://www.vidaslusofonas.pt/adoniran_barbosa.htm
http://www.mpbnet.com.br/musicos/noel.rosa/

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