domingo, 12 de abril de 2009

A Viola Caipira de Tião Carreiro

Autor: Fernando Cesar Caselato
Polo: São Carlos


José Dias Nunes, este é o nome pelo qual ganhou fama Tião Carreiro, o Deus carrancudo, como muitos assim o chamavam, devido ao seu volumoso bigode e seu temperamento sisudo. É considerado pelos historiadores, violeiros e folcloristas, como o símbolo maior da cultura caipira. Nascido em 1934, foi um gênio da sua época, com inovações com relação ás técnicas de pontear o instrumento (dedilhar, digitar as cordas da viola caipira). Seus discos são procurados nas lojas especializadas até os dias de hoje.

Tião foi, numa terra de tantos bons violeiros, o melhor e o mais famoso, deixando muitos admiradores. Tanto que nunca foi esquecido. No rádio, no alto-falante das praças e nos aparelhos de som, rodaram seus 28 discos de 78 rpm e os 57 compactos e LPs. O gênio não era mesmo dado a sorrisos, mas gostava de festas, onde pudesse tocar sem ter hora para parar.

Em parceria com o amigo Pardinho, criou e interpretou inúmeros sucessos como “Pagode em Brasília” e “Falou e Disse”. Cantou e tocou ritmos típicos de nossa cultura raiz, como o cururu, a toada, o recortado mineiro, o cateretê, o arrasta-pé, a cana-verde, a moda de viola, samba e o pagode de viola. Este último, o pagode de viola, é considerado uma criação do mestre que, segundo relatos, em um quarto de hotel, uniu o recortado mineiro com o cipó-preto ou lundu. Se não há provas concretas de sua criação, com certeza não há dúvidas da enorme divulgação que fez com o ritmo inovador.

Interessante é o magnetismo que Tião exerce sobre os admiradores, músicos ou não, sendo que mesmo os que desconhecem sua trajetória, lembram de seu rosto forte e determinado. Também aprimorou o estilo de cantar em dupla, onde a segunda voz que é a mais grave era colocada com mais destaque do que a primeira. Estilo que depois foi seguido por inúmeras duplas de cantadores.

O saldo de sua carreira foi o de 25 discos de 78 rpm com Pardinho e Carreirinho, mais de 50 Lps com variados parceiros, dois Lps em solos de viola caipira e mais de 300 composições com os mais importantes nomes – Teddy Vieira, Dino Franco, Moacyr dos Santos, Zé Carreiro, Zé Fortuna, Carreirinho e Lourival dos Santos, amigo e seu principal companheiro.

Toda a técnica de mão direita iniciada por ele, o seu toque com o polegar e as divisões rítmicas intrincadas, servem de inspiração e fonte de pesquisa para a viola que vem acontecendo no Brasil de hoje, com a inclusão e a fusão do jazz brasileiro, a música contemporânea e gêneros como o choro e o maxixe, o maracatu, frevo, baião e afoxé do nordeste e ritmos do sul do Brasil como a milonga, o chamamé e a chacarera.

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